terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Prédio em Fortaleza é a 'casa dos papais noéis' na temporada de Natal

Oito senhores passam o fim de ano trabalhando como papais noéis no CE. Cremes e 'dieta' fazem parte dos rituais para incorporar o personagem.
A cada Natal, Fortaleza serve de morada temporária para um animado grupo de papais noéis vindos de várias partes do país e até da Itália. Este ano, os oito alugaram um andar inteiro em um prédio no Bairro Papicu, onde preparam-se para, em média, 10 horas diárias de conversas, fotos e “ho ho hos” em shoppings, escolas e residências.
Na república dos bons velhinhos, a mamãe noel é a empregada doméstica Maria Celsa, as bermudas substituem a roupa quente de lã e a geladeira é cheia.
“E ainda desconfiam que nossa barriga não é natural”, brinca o italiano Benedetto Sanfilippo, 68 anos, o mais velho do grupo.
Ser papai noel todo dia é um ano a mais que eu ganho na vida”, afirma o mineiro Maxwell Volali.
“Você renasce só de conversar com a criança”, diz Osvaldo Vagner.
A turma é composta de aposentados que moram no Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e na Itália onde foram taxistas, metalúrgicos, atores ou microempresários.
A rotina dos papais noéis começa cedo, o primeiro a sair para o trabalho despediu-se às 8h com destino a uma escola.
Os outros haviam acabado de tomar café e assistiam à TV enquanto aguardavam a hora de pegar no batente.
Descoberto na rua
O carioca Eubirajara Garcia, 67 anos, trabalha como Papai Noel há dois anos, desde que foi descoberto na rua e uma pessoa pediu para levá-lo à agência de Teles.
“Antes disso, só havia me vestido de Papai Noel nos anos 1970, quando ainda nem tinha barba”, conta. Desde então, Garcia decidiu manter a principal característica do personagem e nunca mais cortou a barba, diferente do colega Osvaldo Vagner, que muda de visual duas vezes ao ano para garantir o emprego.
“No dia 27 de dezembro, nem eu me reconheço. É o dia em que corto a barba e só deixo crescer a partir de março”, explica.
O cuidado em manter a aparência do personagem inclui o uso de cremes na barba e uma dieta “rica em gorduras”, segundo o empresário. A barriga é natural, diz Sanfilippo, que raramente é visto longe da escova que usa para alisar os cabelos dele, e quando quer fazer graça, até os dos colegas. Os oito dizem que a empregada doméstica Maria Celsa é a Mamãe Noel. Ela trabalha há seis anos preparando a alimentação e lavando as roupas do grupo.
“São muito brincalhões. É bom demais trabalhar com eles. Me divirto muito”, afirma.
Calor e flashes de cegar
Mas a vida de papai noel não é tão fácil quanto parece.
A maioria reclama do calor do figurino de lã quando fazem trabalhos em lugares abertos.
Sobre o incômodo, o mineiro Dirceu de Souza comenta: “O que não fazemos para deixar as crianças felizes, hein?”.
Outro problema é o flash das máquinas fotográficas.
“São umas 300 fotos por dia. No fim, não enxergamos mais nada pela frente”, dizem.
Para alguns, a vocação de papai noel começou dentro de casa.
“Minha sobrinha sempre disse que eu era o 'titio noel' da família”, conta Garcia.
Já Osvaldo é acostumado com o personagem desde criança, quando a mãe vestia a roupa vermelha e a barba postiça para entregar os presentes: “Levei essa tradição para os meus filhos e a gente sempre brincou no Natal”.
Na convivência, os papais noéis trocam relatos dos pedidos mais marcantes que recebem.
“Entro no clima da criança e às vezes choro junto quando o pedido envolve resolução de conflitos familiares ou de saúde”, diz o mineiro Volali.
Os aposentados não têm descanso nem na noite de Natal, quando são contratados por famílias para animar ceias particulares.

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